Matéria: http://www.hojecentrosul.com.br/especiais/show-internacional-nas-calcadas-de-irati/
Quem passou na manhã dessa segunda-feira (13) pela esquina da Avenida XV de Novembro com a Rua Doutor Munhoz da Rocha, pôde apreciar um pouco de música indígena e até fotografar ao lado de algum integrante do grupo equatoriano da tribo Salasaka: Silvia Chango (30), Wayra Mazaquiza (41), Kawsary Chango (33) e Rumi Edson Chango (23). Eles passam muitos meses viajando por vários países e não escolhem ao certo o local em que vão se apresentar. “Estamos fazendo show”, avisa Wayra antes de começar a tocar a próxima canção. Na verdade, não importa muito se apenas uma pessoa ou uma multidão vai parar para ouvi-los: o show será feito com a mesma dedicação. “Ficamos sempre um ou dois dias, gostamos muito de conhecer outras cidades, as pessoas ficam admirando a nossa cultura”, explica Silvia.
Para vender – além dos CDs – eles trouxeram objetos que foram confeccionados em sua terra natal: pinturas, desenhos, tapeçarias, enfeites, bijuterias, entre outros itens de artesanato. “Essa bolsa é feita de lã de ovelha”, mostra Silvia, “as pessoas gostam muito das coisas que trazemos, porque não tem igual aqui, elas nos apoiam muito. Vendemos principalmente essas bolsinhas,” conta ela.
Rodando em ônibus, de país para país, os músicos esbarram em pessoas da própria tribo e de outros países (como Peru e Bolívia) que também promovem shows musicais pelas calçadas da América Latina. “Tem gente que fala que a nossa música é muito parecida, mas acho que é porque o dono dessa terra era o índio, e era um só, mas depois que veio a Conquista (referência ao período da colonização), foram dispersando, ficando longe. Mas somos como um só, como irmãos, sentimos como se todos fossemos irmãos”, esclarece a musicista. E o propósito do grupo de Salasaka é confidenciado em seguida por Silvia – enquanto os demais se apresentam. “Sentimos saudades do nosso país, mas a gente se acostuma. O nosso propósito é divulgar a nossa cultura indígena, porque um dia o índio era mesmo o dono dessa terra, que é nossa, então nosso propósito é que adultos e crianças conheçam”, aponta.
O grupo existe há cerca de 10 anos e já percorreu vários países. “Meu marido viajou para os Estados Unidos, para a França, Alemanha e Itália. Eu e meus irmãos fomos para a Argentina e agora estamos no Brasil, vamos viajar bastante ainda, acho que em novembro voltamos ao Equador, ficamos um pouco e vamos de novo”, expõe a artista de rua, que deixou a filha de nove anos aos cuidados da avó, na América Central. “Ela tem saudades de nós, e nós também temos muitas saudades dela, só que temos que cumprir esse propósito, já está traçado, então, depois que o cumprirmos, voltamos”, enfatiza Silvia. O repertório musical é variado, abrange as músicas nativas do povo equatoriano, outras para meditação e até gospel.
Quando questionada acerca do significado de seu nome, Silvia sorri encabulada e diz: “Meu nome é comum. Mas Wayra quer dizer vento, Rumi é pedra e Kawsary: vida” destaca sobre a tradução dos nomes de seu marido e dos dois irmãos, respectivamente.
O calor da região Centro Sul do estado pegou os músicos de surpresa. Acostumados com temperaturas mais amenas em seu país, buscaram refúgio numa sombra. “Está esquentando e temos saudades do nosso país, porque lá é mais frio, fresco, não é muito quente. Então sofremos um pouco por aqui. Mas dá para aguentar porque esse é o nosso propósito. Estamos muitos felizes de estar aqui”, confidencia Silvia. No Equador a temperatura varia muito, em decorrência do relevo acidentado. Em certas regiões as temperaturas ficam entre 19°C a 24°C. Em outras partes (como a conhecida tierra fria) ficam em torno de 12°C a 18°C.
Nos restaurantes, eles escolhem os pratos que mais se assemelham às comidas de sua terra natal. Mas Silvia explica que já aderiram ao prato brasileiro: “Feijão, arroz e bife, acostumamos a comer isso, e aqui tem de tudo, é como o Equador mesmo. Em nossa tribo gostamos de comer muita sopa, porque lá é muito frio, e também comida natural, grãos, não muito arroz, mas lá cultivamos os grãos, batatas, feijão, milho também. Mas há anos atrás quando ficamos na Argentina, estranhamos. A comida era bem diferente”, lembra Silvia.
São as mulheres da tribo Salasaka que fazem as roupas e os adereços de penas que os músicos usam nas apresentações. Entre outras atividades, elas cuidam dos bichos e confeccionam os fios que vão servir para fazer as roupas para toda a família. Estão sempre “hilando” (fiando; fazendo fio). Enquanto os homens preparam os tecidos e ajudam as mulheres. “Nosso país é pluricultural, têm muitas tribos indígenas, nós somos um povo muito tranquilo, moramos numa floresta, afastada da cidade, gostamos da natureza, de bichos, e tem tudo isso lá”, conta Silvia. E como escolhem a próxima cidade para onde vão seguir? “A gente olha o mapa e vai se jogando”, finaliza a musicista.